terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Prosa.

Não tenho culpa de ter nascido assim, com alma de escritor - mesmo sem nada escrever. É que escritor tem esse jeito de se engraçar na tristeza, se entranhar na dor e se encontrar nesse modo alegre de sofrer.

O que é que há, é que há alma em demasia. A alma que transborda e a gente esquece por aí, nas ruas, nas esquinas, no trem. Mas assim é que essa gente metida a dramaturgo de mesa de bar se entende, se encontra - no sorriso machucado, no cigarro auto-destrutivo, com amores baratos, beijos vendidos.

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Vestígios



Saindo de casa tive a sensação de que tinha esquecido algo - como muitas vezes já aconteceu, não só comigo. Eu estava saindo de casa como quem saí de uma antiga vida. E é engraçado ter essa sensação com restos que deixamos no passado. É quando, pela primeira vez, usamos do abandono, de fato, sem saber o seu significado e suas intermináveis consequências.

Inocentemente, escolhi a inocência para ser a minha primeira órfã. Assim como outros vestígios meus que ficaram pelos caminhos. Hoje, sou uma má formação de mãe. Daquelas que largaram seu pedaço mais humano por aí. A minha cria restrita a passagem de ida. À deriva dos corações atentos e dos olhos dispersos.