quarta-feira, 27 de julho de 2011

Um pouco de nada.

Quando penso em lhe dar um nome, fogem me letras da cabeça como se fogem formigas da água. Precisava de um personagem, uma máscara para chamar de minha. Para ser a outra 'mim'. Por isso, ficará em branco. Branco como a luz que por tanto clarear ofusca a visão. É assim que essa segunda parte me é. A visão total da razão que não se permite mover.

Como todo homem, eu procurava um motivo. Feito o brasileiro cantor do soul, Tim Maia, eu dizia ininterruptamente: "Me dê motivos!". Aprendemos a fazer dos motivos detalhes triviais na construção dos nossos dias, de cada movimento do nosso corpo. Naqueles dias em que me comportava como uma mãe de um filho desaparecido, sem olhar para o horizonte, nada me era vivível sem tais pequenos detalhes.

Procurei nos cantos, talvez em escrituras nas paredes da minha memória, por algum vestígio deste foragido sentimental. Arrancando páginas de recordações, farejava por cada letra, cada vírgula, onde estaria então a razão pela qual meus passos estavam presos.

O ritual se repetiu durante diversas giradas do relógio, até que por fim, atinei. Segurei com as mãos o motivo que na verdade, era ainda inexistente. Tinha em mim uma certa mágica pelo segredo, sendo que o único segredo era não haver segredo algum.

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Sobe ou desce?

Acredito que o elevador, no nosso contemporâneo, seja um dos momentos mais íntimos que podemos ter com uma pessoa.

Relógio batendo em 9 da manhã, seu dedo apertando o botão. Há alguém ao seu lado, mas o olhar acontece pelo canto dos olhos. Há um paletó em silêncio, um pé batendo apressado no chão, pois o ponteiro agora está em 9 horas e 02 minutos.

Então soa o gongo. Alguém dá a primeira pisada tímida a frente e na formalidade total, a pergunta: sobe ou desce?

Sobe, é claro. Mais silêncio. O sorriso não é amarelo, mas acanhado, como uma criança curiosa e ao mesmo tempo assustada. Naqueles poucos segundos, tudo o que há para se ouvir é uma respiração que te faz pensar o quanto tantas outras mulheres gostariam de ouvir aquela mesma sonoridade naquela hora do dia.

E então, é bom dia. Bom dia e o seu ato mais sexual da manhã deu-se por fim.

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Agradecimentos.

Cheguei para jogar a minha bandeira. Hoje, ontem e nos últimos tempos em que te conheci, eu não tenho mais pensado na humanização. Guardei os dias para serem seus, pois assim os possuiria também. Assim como guardei os dias, eu guardei as borboletas no estômago, os pensamentos, as vontades... E por guardar tantas coisas assim é que a minha caixinha dos sonhos se abriu, meus pés saíram do chão e eu pude, por alguns instantes ver a vida mais color-de-rosa. Hoje, eu venho aqui para te dizer o que eu nunca vou te falar. Mas outros lerão por você e outros se sentirão confortáveis com os meus erros e com o meu perdão. Quero, acima de tudo, dizer que o seu colo foi o melhor colo que eu já tive, assim como não há timbre de voz que soe tão forte no meu ouvido quanto ao seu. Há alguns tempos eu vinha precisando sentir o incômodo de uma paixão só para me lembrar de que estava viva e de que o meu coração é humano não apenas por questões do mundo, mas por mim mesma, pelas minhas próprias projeções. Eu estou indo embora sem que você saiba. Talvez, eu nem tenha para onde ir embora, pois ao menos eu cheguei onde eu queria. Sou apenas uma adolescente com cara de adulta e um faro apurado o bastante para saber que o meu coração cansado precisa de mais alguns dias de cama, chá de erva-doce e chocolate. Te agradeço pelos bons momentos, por ter colocado seu sapato tão bonito na minha vida por alguns instantes, por ter tirado sorrisos sinceros do meu rosto e ter deixado eu me deixar em você. Obrigada por fazer com que eu me sentisse uma princesa, por despertar o meu lado mais feminino, por me dar prazer em ser mulher e abusar do rosa só para que você sentisse orgulho de ser homem com o seu paletó preto. Eu já sinto falta de você, mas sei que isso vai passar. Talvez daqui duas semanas, um mês. Por isso, deixo registrado aqui, que você me fez feliz por muitos instantes. Instantes esses que poderiam durar uma eternidade, senão, pela minha pressa no tempo.

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Alô?

Eles não ligam mais para nós. Quero dizer, aquele objetinho chamado telefone, que quando criança gostávamos tanto de apertar ou girar (para os adeptos ao vintage) seus botões. Eles o esqueceram. Até mesmo o telefone sem fio, coitado, que não te prende e não te sufoca. Nem ele conseguiu fazer com que os mancebos nos liguem, mesmo para o tão adorado "boa noite" ou "bom dia".

Lembremos - já com nostalgia - da frase "estava com saudade de ouvir a tua voz, por isso liguei". Ela se foi, acompanhando de mãos dadas o pagamento da conta do restaurante. Eles nos abrem a porta do carro, é verdade. Mas o telefone? Nunca mais. Hoje em dia, substituem a nossa macia voz do "bom dia" com um: "estava com tanta saudade que precisava te ver on-line". É o fim. E realmente, é o fim. Porque o que liga é a ligação. Quase como um "se liga, para rolar a liga, é preciso que você me ligue". Entendeu?