quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Teatro Grego.

Se ela falasse. Falasse por mim, e ousasse tomar o meu protagonismo. E me entregasse seu palco e suas cortinas, o que faria eu da vida? E aceitando-na, não pelo conformismo, mas pela vontade de sabê-la. Se eu a deixasse me ser, e eu fosse a vida. Eu me possuiria, mas me possuiria em liberdade de mim. E todos os antagonistas da trama estariam libertos. Eu sendo a vida, não possuiria um fio de cabelo meu sequer, e a vida me sendo, teria a posse do meu pensamento que jamais conseguiria se codificar. Dentro dos meus pensamentos, a vida estaria presa na minha única solidão, na minha própria essência.

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

De volta ao ninho.

Cheguei no meu ponto de partida e de estanque. Daqui sei que não levarei nada, no entanto, encontrei o que sempre perco. Há cordas enlaçadas, fincadas como âncora bem abaixo de uma carne, a qual gosto de chamar de coração. Fragmentos de lembranças tão raras que deixamos involuntariamente que se desfaçam em ruas antigas. Estas têm o prazer de me puxar e criar histórias. Histórias que sempre serão as mesmas, cada a qual com seus nomes. Só aqui é que conheço a minha liberdade, mesmo esta mantendo-se no paradoxo de um coração orgulhoso. A aurora voa leve na efemeridade dos segundos, e o meu ninho já não enxergo mais. Dos meus filhotes, nenhum nasceu, mas ficaram suas cascas escondidas nos galhos. Ficou a minha própria casca, mas esta não quer se decompor. Alguém continua alimentando-a, como alimenta-se a doença mais repugnante dentro de um homem indeciso. Ando por essas ruas sem ter a esperança de encontrar meu ninho. A arquitetura e o concreto frio de restos humanos sabem como me guiar. Mesmo assim, uma mente fatigada e afogada em uma emoção eterna, consegue sentir o que a vida traz. Subo seus degraus, dentro do meu lirismo entorpecente e que me tira, de alguma forma, de todo o mal. Um mal não exterior, mas o meu próprio mal, que faz os dedos buscarem o inconseqüente. Tenho medo pela primeira vez então, de ver a carne morta. Carne sem explicação nos lábios de Freud. Medo da carne do meu ninho despertar o que os meus dedos desejam. Sei que eles desejam. Abro a porta, e o cheiro queimado e amargo me faz voar. Procuro, seja o que for, mas procuro o meu antigo apoio. A boca fria e esquecida em contraponto a mente, quente e eufórica. Por quê? De joelhos peço apenas a minha sanidade e o meu corpo. Não estou preparada, não quero obrigar os meus olhos a mais nada. A luz apagou. A luz do meu mundo apagou-se. Dou-me então, de costas para o meu real. Para toda a minha vida que não foi. Nenhuma pele marcada como gado, nenhuma escrita no papel fará eu me sentir como deveria dentro da minha casca.Mas volto em mim, e escrevo. E se escrevo, é porque vivo, e disto, não existe entendimento.




Texto de 29/10/08