segunda-feira, 1 de agosto de 2011

O bar.

Garçom? Por favor, amigo, eu quero lhe pedir uma dose de amor. Não a convencional. Não, nada dessa coisa de Sid & Nancy, não. Me traz com mais emoção, isso. Emoção seguida de conversas na madrugada. Anota aí, quero uma porção de sorrisos e caras de espanto, por quando eu for dizer coisas que ele nunca imaginou que um dia eu fiz, mas ainda assim gostar de mim, sabendo que sem ele eu também sou alguém. Se possível, peça na cozinha para que deixem com um toque agridoce, como da última vez que vim aqui. Tenho um paladar apurado para o doce, mas que muitas vezes puxa para o ácido e... Pimenta também. Gosto deste prato por combinar em muitas situações. Principalmente com a dose de amor, que ao tomar, engolimos o choro, as angústias, o medo... É. A conta? Não, não quero fechar a conta. Vou deixá-la aberta no bar, já que sempre volto. Seja para comemorar ou para debruçar meus cotovelos no balcão. Dizer adeus aqui dentro é impossível.

quarta-feira, 27 de julho de 2011

Um pouco de nada.

Quando penso em lhe dar um nome, fogem me letras da cabeça como se fogem formigas da água. Precisava de um personagem, uma máscara para chamar de minha. Para ser a outra 'mim'. Por isso, ficará em branco. Branco como a luz que por tanto clarear ofusca a visão. É assim que essa segunda parte me é. A visão total da razão que não se permite mover.

Como todo homem, eu procurava um motivo. Feito o brasileiro cantor do soul, Tim Maia, eu dizia ininterruptamente: "Me dê motivos!". Aprendemos a fazer dos motivos detalhes triviais na construção dos nossos dias, de cada movimento do nosso corpo. Naqueles dias em que me comportava como uma mãe de um filho desaparecido, sem olhar para o horizonte, nada me era vivível sem tais pequenos detalhes.

Procurei nos cantos, talvez em escrituras nas paredes da minha memória, por algum vestígio deste foragido sentimental. Arrancando páginas de recordações, farejava por cada letra, cada vírgula, onde estaria então a razão pela qual meus passos estavam presos.

O ritual se repetiu durante diversas giradas do relógio, até que por fim, atinei. Segurei com as mãos o motivo que na verdade, era ainda inexistente. Tinha em mim uma certa mágica pelo segredo, sendo que o único segredo era não haver segredo algum.

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Sobe ou desce?

Acredito que o elevador, no nosso contemporâneo, seja um dos momentos mais íntimos que podemos ter com uma pessoa.

Relógio batendo em 9 da manhã, seu dedo apertando o botão. Há alguém ao seu lado, mas o olhar acontece pelo canto dos olhos. Há um paletó em silêncio, um pé batendo apressado no chão, pois o ponteiro agora está em 9 horas e 02 minutos.

Então soa o gongo. Alguém dá a primeira pisada tímida a frente e na formalidade total, a pergunta: sobe ou desce?

Sobe, é claro. Mais silêncio. O sorriso não é amarelo, mas acanhado, como uma criança curiosa e ao mesmo tempo assustada. Naqueles poucos segundos, tudo o que há para se ouvir é uma respiração que te faz pensar o quanto tantas outras mulheres gostariam de ouvir aquela mesma sonoridade naquela hora do dia.

E então, é bom dia. Bom dia e o seu ato mais sexual da manhã deu-se por fim.

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Agradecimentos.

Cheguei para jogar a minha bandeira. Hoje, ontem e nos últimos tempos em que te conheci, eu não tenho mais pensado na humanização. Guardei os dias para serem seus, pois assim os possuiria também. Assim como guardei os dias, eu guardei as borboletas no estômago, os pensamentos, as vontades... E por guardar tantas coisas assim é que a minha caixinha dos sonhos se abriu, meus pés saíram do chão e eu pude, por alguns instantes ver a vida mais color-de-rosa. Hoje, eu venho aqui para te dizer o que eu nunca vou te falar. Mas outros lerão por você e outros se sentirão confortáveis com os meus erros e com o meu perdão. Quero, acima de tudo, dizer que o seu colo foi o melhor colo que eu já tive, assim como não há timbre de voz que soe tão forte no meu ouvido quanto ao seu. Há alguns tempos eu vinha precisando sentir o incômodo de uma paixão só para me lembrar de que estava viva e de que o meu coração é humano não apenas por questões do mundo, mas por mim mesma, pelas minhas próprias projeções. Eu estou indo embora sem que você saiba. Talvez, eu nem tenha para onde ir embora, pois ao menos eu cheguei onde eu queria. Sou apenas uma adolescente com cara de adulta e um faro apurado o bastante para saber que o meu coração cansado precisa de mais alguns dias de cama, chá de erva-doce e chocolate. Te agradeço pelos bons momentos, por ter colocado seu sapato tão bonito na minha vida por alguns instantes, por ter tirado sorrisos sinceros do meu rosto e ter deixado eu me deixar em você. Obrigada por fazer com que eu me sentisse uma princesa, por despertar o meu lado mais feminino, por me dar prazer em ser mulher e abusar do rosa só para que você sentisse orgulho de ser homem com o seu paletó preto. Eu já sinto falta de você, mas sei que isso vai passar. Talvez daqui duas semanas, um mês. Por isso, deixo registrado aqui, que você me fez feliz por muitos instantes. Instantes esses que poderiam durar uma eternidade, senão, pela minha pressa no tempo.

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Alô?

Eles não ligam mais para nós. Quero dizer, aquele objetinho chamado telefone, que quando criança gostávamos tanto de apertar ou girar (para os adeptos ao vintage) seus botões. Eles o esqueceram. Até mesmo o telefone sem fio, coitado, que não te prende e não te sufoca. Nem ele conseguiu fazer com que os mancebos nos liguem, mesmo para o tão adorado "boa noite" ou "bom dia".

Lembremos - já com nostalgia - da frase "estava com saudade de ouvir a tua voz, por isso liguei". Ela se foi, acompanhando de mãos dadas o pagamento da conta do restaurante. Eles nos abrem a porta do carro, é verdade. Mas o telefone? Nunca mais. Hoje em dia, substituem a nossa macia voz do "bom dia" com um: "estava com tanta saudade que precisava te ver on-line". É o fim. E realmente, é o fim. Porque o que liga é a ligação. Quase como um "se liga, para rolar a liga, é preciso que você me ligue". Entendeu?

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Amor.

Primeiro amor é igual tatuagem. Uma tatuagem que só nós vemos. Mesmo cobrindo com roupas e cabelos, sabemos que vai continuar na pele.

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Quem é ela?

Desde discursos presidenciais de George Bush à conversas de boteco, eis um tema que paira como neblina, tão ofuscante como antes: a liberdade.

Sem saudosismos principiantes, começo relembrando dos tempos - tempos esses que mal meu avô se encontrava no saco do seu pai - em que a liberdade era até então uma vertente desconhecida nos campos filosóficos do homem "antigo". Não tínhamos tempo para pensar sequer em sermos livres. O mundo precisava não de pensadores, mas de corpos agindo simultaneamente para o seu crescimento em alta escala.

Com esse processo de desenvolvimento não só tecnológico, mas inclusive cultural, aos poucos fomos encurtando saias, beijando nas esquinas e descobrindo, a ponta do rabo do que entendemos por liberdade, em seu sentido literal. Os jovens, sempre vanguardiando movimentos, obviamente, jamais retrocederiam a esse feito. Feito este que, da mini saia dos anos 60 acabamos no fio dental que já é marca registrada, pelo menos nas praias e carnavais paulistas e cariocas.

Do mesmo modo que escancaramos o buraco da liberdade de expressão, há hoje, quem dê os primeiros passos para lacrar onde antes havia um hímen. De uns tempos pra cá, a cada página aberta do jornal, nos deparamos com notícias que cada dia mais fazem menos sentido. Longe da censura da ditadura militar, a alucinação do homem por um controle transcedeu qualquer tipo de regime. Como o câncer que aparece em qualquer canto do nosso corpo, por qualquer motivo que sempre desconheceremos, as proibições vêm tomando um espaço descomunal. Foram abertas as portas para o deadline de tudo o que é bom. Droga virou mais do que demodê. O cigarro? Coitado. Hoje é coisa de vagabundo e folgado, que estupra o pulmão do vizinho a cada minuto. Xingar o amigo, a mãe do amigo, ou até comer a irmã do amigo e comentar depois, causa doença, é crime e ele pode virar um psicopata de primeira mão. Sim, por sua causa. Até as crianças foram pegas de surpresa. Agora não existe mais chantagem que as obriguem a comer. Em Minas Gerais já querem proibir a venda de brinquedos junto com o fast-food. E a palmada na criança depois de estourar a janela do vizinho? É crime. E em pouco tempo, essa palmada vai virar os tapas que você dá na bunda da sua mulher durante o sexo. Assim como o humano 'filho da puta', não pode mais ser dito durante os jogos de futebol. Estão nos empurrando guela abaixo uma verdadeira geração de brochas e meninos criados no carpete da avó.

E enquanto isso, Gandhi, Barack Obama e até os Beatles, usaram o seu santo nome em vão, minha querida liberdade, grande utopia dos nossos tempos.